terça-feira, 12 de abril de 2016

TEXTO

BICHO-PAPÃO DA MINHA IMAGINAÇÃO

            Uma noite cismei que meu pai era o Bicho-Papão. Foi cismar, pronto, aconteceu. Não aconteceu de verdade, mas aconteceu dentro daminha cabeça. Cabeça da gente é fogo!
            Eu já estava deitada. Era uma noite escura. Papai estava conversando na sala, com visitas. De repente, pensei assim:
            _ O Bicho-Papão está fingindo que é meu pai, ele está lá na sala, conversando, enganando todo mundo, tomando a forma de meu pai, o danado! Mas não é meu pai, é o Bicho-Papão! Pra tirar a dúvida vou chamar ele pra vir  aqui no meu quarto... se ele tiver pé de parto, em vez de ter pé de gente, é porque ele não é meu pai!
            O vento batia na cortina branca, igual aos filmes de terror, resolvi que preferiria dormir, sem saber da verdade. Chamar meu pai pra tirar a dúvida? Deus me livre.
            Lembrei de uma reza que Guiomar tinha me ensinado, para espantar todos os males do mundo. Era uma reza complicada, precisava rezar e dar uns pulinhos e umas voltas. Para rezar aquilo seria necessário sair de baixo do cobertor. Deus me acuda.
            Meu Bicho-Papão era assim: tinha pés para trás e eram de pato. Às vezes eram só de pato, virados para frente mesmo.
            Resolvi tomar coragem, mar o pavor não passava. Era preciso rezar a reza de Guiomar, pois comecei a ouvir a voz de papai, como se ele tivesse uma voz com sotaque papônico. Ai, era preciso sair da cama e rezar a reza.
            Pulei da cama, rápido, acendendo a luz de cabeceira. Sombras enormes projetavam-se nas paredes, a cortina continuava a dançar, enquanto o vento gemia lá fora: uuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu!
            Comecei a reza:
            Senhor dos aflitos, protegei-me a mim e a esta casa, pelos quatro cantos (tinha que dar quatro pulos cada vez, virando-me para um canto do quarto), pelas três estrelas cadentes (levantar o braço esquerdo três vezes), pelo anjo arcanjo Jeremias, que o mal desapareça por aquela janela (ajoelhar em frente a janela), em sete rodopios quentes e frios (rodar sete vezes).
            Nesta exata hora em que eu estava dando o sétimo rodopio, meu pai entrou no quarto, para ver que barulheira era aquela. Foi entrar e eu pulei de volta para cama, dura de pavor. Seria meu pai ou seria o Bicho-Papão? Eu ainda não havia terminado de rezar a reza, faltava completar o sétimo rodopio, depois rezar uma ave-maria.
            _ Você está de luz acesa Sylvia?
            _ Estou sem sono, papai.
            Papai aproximou-se para ajeitar meu cobertor. Eu, de olhar duro, sem espiar os pés dele. Com certeza eram de pato, virados para trás, ave-maria cheia de graça o senhor é convosco ...
            _ Resolvi espiar. Eu ia dar uma olhadinha rápida nos pés de meu pai, era só tomar coragem. Suava frio, tremia toda, apavorada.
            _ Você está com frio?
            Pronto! Ele me perguntou isso só pra me soprar o fogo de suas ventas! Era a mula sem cabeça, fingindo ser papai. Tinha pé de pato, com certeza absoluta!
            Tomei coragem, virei os olhos para baixo para espiar. Neste segundo, ele apagou a luz dizendo:
            _ Boa noite.
            Fiquei sem saber se era o meu pai ou se era o Bicho-Papão. Até hoje o meu cabelo é duro de pentear. Espetou. Arrepiado para sempre.
Sylvia Orthof. Os bichos que tive: memórias zoológicas.
Rio de janeiro, Salamandra, 1983
1-      Responda utilizando sempre respostas completas e com muita atenção.
a)                 A menina da história, criou, em sua imaginação, um bicho-papão. Você, alguma vez, também já criou um mostro ou bicho imaginário? Como era ele? (Se a resposta for negativa invente um bicho e responda a questão). ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
b)                 Em sua opinião, bicho-papão existe? Justifique sua resposta. _____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
c)         O narrador do texto é um narrador-observador ou um narrador personagem? Quem é ele ou ela?
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d)         Quem é a autora do texto? ______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
c )        O que é possível pensar comparando o nome da personagem da história com o nome da autora? ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
c)                  Releia o trecho do texto:

“...comecei a ouvir a voz do papai, como
se ele uma voz com sotaque papônico.”

O que a menina quis dizer com a expressão “sotaque papônico”? ______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
d)                 Há um momento da história em que a menina se sente mais apavorada. Que momento é esse? _____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
e)      Releia o trecho abaixo:
“Foi cismar, pronto, aconteceu. Não aconteceu de verdade,
mas aconteceu dentro daminha cabeça. Cabeça da gente é fogo!”
Procure explicar o significado da frase em destaque. ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
f)       Para Sylvia, quais eram as características do Bicho-Papão?
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g)                 E para você, que características um bicho-papão pode ter? _____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
h)                 Qual é o nome do livro do qual essa história foi extraída? ______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________


2-      Separe as sílabas, circule a sílaba forte e classifique em oxítona, paroxítona e proparoxítona:
Palavra
Separação
Classificação
Bicho


Rezar


Papônico



            10- Ligue os tipos de frases:
Sylvia tem medo do Bicho-Papão.-                                                                     - Frase interrogativa
Será que o pai era o Bicho? -                                                                               - Frase afirmativa
Coitadinha da menina! -                                                                                       - Frase negativa
O pai não fez maldade para ela.  -                                                                      - Frase exclamativa

                11- Ditado
1-
2-
3-
4-
5-
6-
7-
8-
9-
10-
11-
12-
Frase1: _________________________________________________________________________
Frase 2: _________________________________________________________________________


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