BICHO-PAPÃO
DA MINHA IMAGINAÇÃO
Uma noite cismei que meu pai era o
Bicho-Papão. Foi cismar, pronto, aconteceu. Não aconteceu de verdade, mas
aconteceu dentro daminha cabeça. Cabeça da gente é fogo!
Eu já estava deitada. Era uma noite
escura. Papai estava conversando na sala, com visitas. De repente, pensei
assim:
_ O Bicho-Papão está fingindo que é
meu pai, ele está lá na sala, conversando, enganando todo mundo, tomando a
forma de meu pai, o danado! Mas não é meu pai, é o Bicho-Papão! Pra tirar a
dúvida vou chamar ele pra vir aqui no
meu quarto... se ele tiver pé de parto, em vez de ter pé de gente, é porque ele
não é meu pai!
O vento batia na cortina branca,
igual aos filmes de terror, resolvi que preferiria dormir, sem saber da
verdade. Chamar meu pai pra tirar a dúvida? Deus me livre.
Lembrei de uma reza que Guiomar
tinha me ensinado, para espantar todos os males do mundo. Era uma reza
complicada, precisava rezar e dar uns pulinhos e umas voltas. Para rezar aquilo
seria necessário sair de baixo do cobertor. Deus me acuda.
Meu Bicho-Papão era assim: tinha pés
para trás e eram de pato. Às vezes eram só de pato, virados para frente mesmo.
Resolvi tomar coragem, mar o pavor
não passava. Era preciso rezar a reza de Guiomar, pois comecei a ouvir a voz de
papai, como se ele tivesse uma voz com sotaque papônico. Ai, era preciso sair
da cama e rezar a reza.
Pulei da cama, rápido, acendendo a
luz de cabeceira. Sombras enormes projetavam-se nas paredes, a cortina
continuava a dançar, enquanto o vento gemia lá fora:
uuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu!
Comecei a reza:
Senhor dos aflitos, protegei-me a
mim e a esta casa, pelos quatro cantos (tinha que dar quatro pulos cada vez,
virando-me para um canto do quarto), pelas três estrelas cadentes (levantar o
braço esquerdo três vezes), pelo anjo arcanjo Jeremias, que o mal desapareça
por aquela janela (ajoelhar em frente a janela), em sete rodopios quentes e
frios (rodar sete vezes).
Nesta exata hora em que eu estava
dando o sétimo rodopio, meu pai entrou no quarto, para ver que barulheira era
aquela. Foi entrar e eu pulei de volta para cama, dura de pavor. Seria meu pai
ou seria o Bicho-Papão? Eu ainda não havia terminado de rezar a reza, faltava completar
o sétimo rodopio, depois rezar uma ave-maria.
_ Você está de luz acesa Sylvia?
_ Estou sem sono, papai.
Papai aproximou-se para ajeitar meu
cobertor. Eu, de olhar duro, sem espiar os pés dele. Com certeza eram de pato,
virados para trás, ave-maria cheia de graça o senhor é convosco ...
_ Resolvi espiar. Eu ia dar uma
olhadinha rápida nos pés de meu pai, era só tomar coragem. Suava frio, tremia
toda, apavorada.
_ Você está com frio?
Pronto! Ele me perguntou isso só pra
me soprar o fogo de suas ventas! Era a mula sem cabeça, fingindo ser papai.
Tinha pé de pato, com certeza absoluta!
Tomei coragem, virei os olhos para
baixo para espiar. Neste segundo, ele apagou a luz dizendo:
_ Boa noite.
Fiquei sem saber se era o meu pai ou
se era o Bicho-Papão. Até hoje o meu cabelo é duro de pentear. Espetou.
Arrepiado para sempre.
Sylvia
Orthof. Os bichos que tive: memórias zoológicas.
Rio de
janeiro, Salamandra, 1983
1- Responda utilizando sempre respostas
completas e com muita atenção.
a)
A
menina da história, criou, em sua imaginação, um bicho-papão. Você, alguma vez,
também já criou um mostro ou bicho imaginário? Como era ele? (Se a resposta for
negativa invente um bicho e responda a questão).
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b)
Em
sua opinião, bicho-papão existe? Justifique sua resposta.
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c) O
narrador do texto é um narrador-observador ou um narrador personagem? Quem é
ele ou ela?
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d) Quem é a autora do texto?
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c ) O que é possível pensar comparando o nome
da personagem da história com o nome da autora?
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c)
Releia
o trecho do texto:
“...comecei a ouvir a voz do papai, como
se ele uma voz com sotaque
papônico.”
O que a menina quis dizer com a expressão “sotaque papônico”?
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d)
Há
um momento da história em que a menina se sente mais apavorada. Que momento é
esse?
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e) Releia o trecho abaixo:
“Foi cismar, pronto, aconteceu. Não aconteceu de verdade,
mas aconteceu dentro daminha cabeça. Cabeça
da gente é fogo!”
Procure
explicar o significado da frase em destaque.
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f) Para Sylvia, quais eram as
características do Bicho-Papão?
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g)
E
para você, que características um bicho-papão pode ter?
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h)
Qual
é o nome do livro do qual essa história foi extraída?
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2- Separe as sílabas, circule a sílaba forte
e classifique em oxítona, paroxítona e proparoxítona:
Palavra
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Separação
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Classificação
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Bicho
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Rezar
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Papônico
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10- Ligue os tipos de frases:
Sylvia tem medo do Bicho-Papão.- - Frase interrogativa
Será que o pai era o Bicho? - - Frase afirmativa
Coitadinha da menina! -
- Frase
negativa
O pai não fez maldade para ela. - - Frase exclamativa
11- Ditado
1-
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2-
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3-
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4-
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5-
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6-
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7-
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8-
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9-
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10-
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11-
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12-
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Frase1: _________________________________________________________________________
Frase 2:
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