terça-feira, 21 de junho de 2011

MARIA VAI-COM-AS-OUTRAS


Era uma vez uma ovelha chamada Maria. Onde as outras ovelhas iam, Maria ia também. As ovelhas iam para baixo Maria ia também. As ovelhas iam para cima, Maria ia também.
Um dia, todas as ovelhas foram para o Pólo Sul. Maria foi também. E atchim! Maria ia sempre com as outras.
Depois todas as ovelhas foram para o deserto. Maria foi também.
- Ai que lugar quente! As ovelhas tiveram insolação. Maria teve insolação também. Uf! Uf! Puf!
Maria ia sempre com as outras.
Um dia, todas as ovelhas resolveram comer salada de jiló.
Maria detestava jiló. Mas, como todas as ovelhas comiam jiló, Maria comia também. Que horror!
Foi quando de repente, Maria pensou:
“Se eu não gosto de jiló, por que é que eu tenho que comer salada de jiló?”
Maria pensou, suspirou, mas continuou fazendo o que as outras faziam.
Até que as ovelhas resolveram pular do alto do Corcovado pra dentro da lagoa. Todas as ovelhas pularam.
Pulava uma ovelha, não caía na lagoa, caía na pedra, quebrava o pé e chorava: mé! Pulava outra ovelha, não caía na lagoa, caía na pedra e chorava: mé!

E assim quarenta duas ovelhas pularam, quebraram o pé, chorando mé, mé, mé! Chegou a vez de Maria pular. Ela deu uma requebrada, entrou num restaurante comeu, uma feijoada.
Agora, mé, Maria vai para onde caminha seu pé.
Sylvia Orlof


Sylvia Orthof nasceu em Petrópolis, estado do Rio de Janeiro, em 1932, e faleceu em 1997. Ao longo de sua vida, publicou cerca de 120 livros para crianças, desde a estréia, em 1981, com Mudanças no Galinheiro Mudam as Coisas por Inteiro. Recebeu o Prêmio Jabuti de Literatura Infantil pelo livro A Vaca Mimosa e a Mosca Zenilda, em 1983, e o Prêmio Ofélia Fontes, pela coleção Assim é se lhe parece, junto com Angela Carneiro e Lia Neiva, em 1995, entre outros.


O PRÍNCIPE DESENCANTADO


O primeiro beijo foi dado por um príncipe numa princesa que estava dormindo encantada há cem anos. Assim que foi beijada, ela acordou e começou a falar    - Muito obrigada, querido príncipe. Você por acaso é solteiro?
    - Sim, minha querida princesa.
    - Então nós temos que nos casar já! Você me beijou, e foi na boca, afinal de contas não fica bem, não é mesmo?
    - É... minha querida princesa.
    - Você tem um castelo, é claro.                                                  
    - Tenho... princesa.
    - E quantos quartos têm o seu castelo, posso saber?
    - Trinta e seis.
    - Só? Pequeno hein! Mas não faz mal, depois a gente faz umas reformas... Deixa eu pensar quantas amas eu vou ter que contratar... Umas quarenta eu acho que dá!
    - Tantas assim?
    - Ora, meu caro, você não espera que eu vá gastar as minhas unhas varrendo, lavando e passando não é?
    - Mas quarenta amas!
    - Ah, eu não quero nem saber. Eu não pedi para ninguém vir aqui me beijar, e já vou avisando que quero umas roupas novas, as minhas devem estar fora de moda, afinal, passaram-se cem anos, não é mesmo? E quero uma carruagem de marfim, sapatinhos de cristal e... E... Jóia é claro! Eu quero anéis, pulseiras, colares, tiaras, coroas, cetros, pedras preciosas, semipreciosas, pepitas de ouro e discos de platina!
     - Mas eu não sou o rei das Arábicas sou apenas um príncipe...
     - Não me venha com desculpas esfarrapadas! Eu estava aqui dormindo e você veio e me beijou e agora vai querer que eu ande por aí como uma gata borralheira? Não, não e não, e outra vez não e mais uma vez não!
     Tanto a princesa falou, que o príncipe se arrependeu de ter ido até lá e beijado. Então, teve uma idéia. Esperou a princesa ficar distraída, se jogou sobre ela e deu outro beijo, bem forte. A princesa caiu imediatamente em sono profundo, e dizem que até hoje está lá, adormecida. Parece que a notícia se espalhou e os príncipes passam correndo pela frente do castelo onde ela dorme, assobiando e olhando para o outro lado.
Flávio de Souza. Príncipes e princesas, sapos e lagartos.
São Paulo, FTD, 1993.